quarta-feira, 29 de junho de 2011

Antes que elas cresçam

Affonso Romano de Sant'Anna


Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
É que as crianças  crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença.
 Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.

Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.
Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram  para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta   dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.
Deveríamos ter ido mais  vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir  sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.
No princípio  subiam a serra ou iam à casa de  praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo  com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio  dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha  terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.
O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.

"Aprendemos a ser filhos depois que somos pais. Só aprendemos a ser pais depois que somos avós..."  
Lindo texto não é mesmo? Mais uma vez a amiga Aline me agraciando com belas mensagens...
Nós pais com o passar do tempo ficamos um tanto saudosistas... Como passou rápido, parece que foi ontem!!!
Não resisti e para acompanhar as lindas palavras de Affonso Romano de Sant’Anna resolvi mexer no baú das lembranças e postar algumas fotos dos meus “pimpolhos”.


terça-feira, 28 de junho de 2011

Mestres ou professores? - Paulo Coelho


Volto aqui a um dos meus personagens favoritos, o filósofo chinês Confúcio. Acredita-se que viveu entre 551-479 a.C. Algumas obras são atribuídas a ele, outras foram compiladas por seus discípulos. Em um destes textos, “Conversas Familiares”, existe um interessante diálogo a respeito do aprendizado:
Confúcio sentou-se para descansar, e logo os alunos começaram a fazer perguntas. Naquele dia, o Mestre estava bem disposto, resolveu responder.
- O senhor consegue explicar tudo o que sente. Por que não vai até o imperador e fala com ele?
- O imperador também faz belos discursos - disse Confúcio. – E belos discursos são apenas uma questão de técnica: eles não trazem em si a Virtude.
- Então envie o seu livro Poemas.
- Os trezentos poemas ali escritos podem ser resumidos numa só frase: pense corretamente. Este é o segredo.
- O que é pensar corretamente?
- É saber usar a mente e o coração, a disciplina e a emoção. Quando se deseja uma coisa, a vida nos guiará até lá, mas por caminhos que não esperamos. Muitas vezes nos deixamos confundir, porque estes caminhos nos surpreendem – e então achamos que estamos indo na direção errada. Por isso eu disse: deixe-se levar pela emoção, mas tenha a disciplina para seguir adiante.
- O senhor faz isso?
- Aos quinze anos, comecei a aprender. Aos trinta, passei a ter certeza do que desejava. Aos quarenta, as dúvidas voltaram. Aos cinqüenta anos, descobri que o Céu tem um projeto para mim e para cada homem sobre a face da Terra.
“Aos sessenta, compreendi este projeto e encontrei a tranqüilidade para segui-lo. Agora, aos setenta anos, posso escutar meu coração, sem que ele me faça sair do caminho.
- Então, o que o faz diferente dos outros homens que também aceitam a vontade do Céu?
- Eu procuro dividi-la com vocês. E quem consegue discutir uma verdade antiga com uma geração nova, deve usar sua capacidade de ensinar. Esta é a minha única qualidade: ser um bom professor.
- O que é um bom professor?
- É o que examina tudo o que ensina. As idéias antigas não podem escravizar o homem, porque com o tempo elas têm que se adaptar e ganhar novas formas. Então, tomemos a riqueza filosófica do passado, sem esquecer os desafios que o mundo presente nos propõe.
- E o que é um bom aluno?
- É aquele que escuta o que eu digo, adaptando meus ensinamentos à sua vida, mas nunca os seguindo ao pé da letra. É aquele que não procura um emprego, mas um trabalho que o dignifica. E por fim, é aquele que não busca ser notado, e sim fazer algo notável.

Provérbios de Confúcio:
Para conhecer um homem: veja como ele age, descubra o que ele busca, examine o que o faz feliz.

Quem pergunta, é bobo por cinco minutos. Quem não pergunta, é bobo para sempre.

Paulo Coelho.

Enfeite para entrada da casa

Vasos de parede com decoupage





Estes vasos foram reciclados! Já estavam em minha casa há muitos anos e com o tempo foram ficando feios e mofados. Retirei as plantas, lavei, lixei e pintei novamente... para finalizar resolvi decorar com essas lindas estampas de flores em uma decoupage!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

SOMOS O RESULTADO DAS NOSSAS ESCOLHAS!

Tenho o hábito de caminhar de uma a duas horas de três a quatro vezes por semana junto à orla da cidade onde moro. Enquanto estou caminhando geralmente estou com a cabeça fervilhando de idéias e pensamentos. Em muitas dessas reflexões, acabo percorrendo caminhos mentais que me levam a diferentes descobertas, tanto no plano pessoal quanto profissional. Gosto muito desse “duplo” exercício e do que ele me proporciona.

A habilidade de pensar é constantemente praticada no nosso dia-a-dia, muito embora não a aproveitemos com qualidade e profundidade. Mas em geral, estamos sempre pensando em “nosso universo”.

Em uma determinada tarde, ao final do dia, decidi sair para uma das minhas “andanças”. Tomei o rumo e comecei a praticar o meu “bate papo mental”. Despertei em meus pensamentos o questionamento sobre qual o motivo, o quê me fazia optar por aquela ação, porque eu saia sistematicamente para caminhar. Julguei em um primeiro instante através de uma análise superficial que caminhava para praticar uma atividade física, mas aprofundando as minhas inferências cheguei a um ponto que tem feito com que eu aja, me comporte e me relacione de um modo diferente e especial, as minhas escolhas.

Entre várias propriedades e peculiaridades que diferem os seres humanos dos demais animais, o poder da escolha tornou-se o objeto dos meus questionamentos, do meu monólogo.

Todos os dias nós acordamos e somos servidos de um leque incalculável de opções. De simples escolhas que eventualmente passam despercebidas a decisões que requerem análises mais complexas.

“...peço um lanche rápido ou escolho aquela dieta mais balanceada...”
“...incluo essa ação no meu planejamento profissional ou avalio isso em um outro momento...”

Você pode dormir mais cinco minutos ou chegar na hora naquela reunião, você pode acionar o sinal para virar na esquina à direita ou receber uma multa de infração, você pode se comprometer ao máximo com a sua empresa ou viver na corda bamba da empregabilidade, enfim opções, escolhas e conseqüentemente, resultados, conseqüências.

Embora alguns possam dizer “... nem tudo depende só de mim...” ou ainda, “... as coisas nem sempre são como eu quero...”, isso definitivamente soa como uma atitude defensiva, como uma fuga aos meus ouvidos.

Sim, as escolhas dependem de mim. Sim, as coisas podem ser como eu quero. Faça chuva ou faça sol, frio ou calor, quem decide o caminho somos nós. É evidente que não temos o controle total sobre os resultados e conseqüências, simplesmente porquê estes são variáveis, mas diversas coisas que fazem positivamente a diferença como sorrir, planejar, acreditar, agir, trabalhar são ações determinadas por nós e essas por sua vez geram seus respectivos resultados e conseqüências.

E então você pode se perguntar, “... mas como saber quais são as escolhas corretas?” A verdade é que não se tratam de escolhas corretas, mas sim de melhores escolhas situacionais. Opções que geram resultados melhor qualificados. Escolhas realizáveis de acordo com o nosso momento, de acordo com a nossa conduta.

“... E o que pode ser feito para optar pelas melhores escolhas? Como se preparar para percorrer os melhores caminhos?...”
Não existe uma fórmula mágica ou algo que garanta as melhores escolhas, o que existem são algumas receitas a que todas as pessoas têm acesso. A prática e desenvolvimento de atitudes e comportamentos que nos conduzirão aos melhores caminhos. Pensar e agir positivamente sempre e o tempo todo é uma dessas práticas, uma dessas receitas. É preciso acordar e colocar todos os dias sobre os ombros um sinal de “mais” que lhe acompanhará em todos os momentos, em todas as situações. Uma verdadeira atitude positiva adicionada a um comportamento construtivo e pró-ativo, capaz de diferenciar o seu dia, capaz de melhorar a sua qualidade de vida, capaz de proporcionar a todas as pessoas que o cercam o prazer do seu convívio.

Sempre que fazemos nossas escolhas acompanhadas desse sinal de “mais”, obtemos os melhores resultados e através desse condicionamento positivo, dessa prática em busca do melhor caminho, desenvolvemos e credenciamos a nossa responsabilidade, ou seja, a nossa habilidade de respostas e a tornamos um hábito.

Hábito de ser e viver feliz, ou ser amargo, indesejável, de viver mal humorado. Hábito de deixar a vida me levar ou de conduzi-la de acordo com os meus sonhos, com os meus planos. Hábito de surpreender positivamente às pessoas ou negativamente.

Habituar-se a vencer, a crescer, a atingir metas, a realizar planos, enfim, a tudo aquilo que julgamos ser o melhor é sem dúvida o grande desafio. Caminhar pode se tornar um hábito, basta que para isso eu decida, que você decida, que pratiquemos a nossa liberdade de escolher as atitudes, comportamentos e caminhos que queremos em nossas vidas. Por isso, toda a vez em que você se encontrar diante de opções tenha sempre a consciência de que nós somos o resultado de nossas próprias escolhas.

Márcio Campos Nobre - Perfil do Autor:
Bacharel em Comunicação Social - PUCRS; Especialista em Marketing, Vendas e Negociação, Multiply pelo Icode e Metodologia do Ensino pela BOU; Consultor e Palestrante da J.A.Nobre Consultores Associados.
www.janobre.com.br
marcionobre@janobre.com.br

http://www.artigonal.com/carreira-artigos/somos-o-resultado-das-nossas-escolhas-382536.html

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A canção de qualquer mãe

Lia Luft

"Filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter."


Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só pode nascer entre nós. Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se encolha nem um milímetro com medo de voltar a ser menino, você que já é um homem. Que quando eu a olhe, minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas simplesmente adorada, como desde o primeiro instante.
Que, quando se lembrarem de sua infância, não recordem os dias difíceis (vocês nem sabiam), o trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o casamento numa pequena ou grande crise, os nervos à flor da pele – aqueles dias em que, até hoje arrependida, dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse uma palavra injusta. Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas, das histórias na hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês, pequenos, comeram dizendo que estava maravilhoso. Que pensando em sua adolescência não recordem minhas distrações, minhas imperfeições e impropriedades, mas as caminhadas pela praia, o sorvete na esquina, a lição de casa na mesa de jantar, a sensação de aconchego, sentados na sala cada um com sua ocupação.
Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: mãe! Seja para prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que, independendo da hora e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência faça expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde for, vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver vai enfeitar e tornar bom.
Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda que com passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que isso signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços e boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e se tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas: serão apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço mais cansada vocês não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar: provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me confundir, esse eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste: tentem entrar no meu novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se impacientarem. Toda a transformação do nascimento à morte é um dom da natureza, e uma forma de crescimento.
Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência. A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra. E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter.

Revista Veja - Edição 2164/12 de maio de 2011